Casa que é casa, tem bagunça, tem cheiro de comida, tem vida. Casa que é casa, tem almofada revirada, louça na pia, parede marcada. E que bom é isso, afinal o conceito de casa que temos hoje é muito mais amplo e abrangente do que o conceito que tínhamos há alguns anos atrás.
Antes, a casa era para os olhos alheios. Era a tendência do momento que predominava, o bacana era parecer de revista. Hoje, a casa é pra gente, é casa vivida. É aconchego, é retiro, é nosso reflexo, nosso pedaço de teto que nos traduz em paredes, móveis e objetos.
Não nos interessa uma casa que nos diga pouco à respeito. Queremos sim nossas expectativas estampadas em cada canto, as mudanças que ocorreram em nossas vidas pinceladas aqui e acolá, nossos erros e acertos povoando cada recinto.
O que vale é nosso gosto. As nossas próprias combinações. Aqueles itens que conhecemos tão bem e já deixamos de ver sua forma e sua estética, mas enxergamos neles a história: aquele dia ensolarado na praia, o sorriso daquele amigo querido, o sentimento ali impregnado que só nós conhecemos.
E aquele móvel já um tanto rodado que nem cogitamos trocar por um novo? É tesouro, herança da família ou garimpo que ralamos pra encontrar. E nele existem as marcas generosas do tempo que jamais conseguiremos reproduzir. São os registros alegres dos copos que ali foram apoiados, as lascas nas quinas devido a inúmeras mudanças de endereço, até mesmo camadas de tinta que se revelam de forma tão poética.
Casa que é casa é tudo isso e mais um pouco. Possui paredes com gênio e que juram ser de carne e osso. Ah, e como elas dizem um bocado sobre nós! Narram nossas alegrias e tristezas, nossos momentos importantes e se transformam como a gente: tem seus dias festivos vestidas com cores fortes, possui dias contemplativos, dias repletos de audácia ou às vezes estão ali, quietinhas, apenas esperando que algo muito bacana lhes aconteça.
Guardiãs de nossos segredos mais íntimos, conhecem como ninguém nossos medos, nossos desejos, nosso pior e nosso melhor. Confidentes incríveis que nunca julgam, pelo contrário, sempre estão ali quando precisamos, prontas pra acolher, proteger e pra mudar toda vez que for preciso, seja sob chuva ou sol.
Casas desse tipo expressam os sentimentos em cada cantinho e se modificam conforme nossas propostas. De manhã é refúgio, å tarde é restaurante, à noite é bar e o melhor lugar de encontro.
Queremos sim alicerces mais humanos, sem hostilidades, com paredes que nos abracem e onde nos reconhecemos em cada ínfimo detalhe. Não interessa se ela é nova ou velha, grande ou pequena. Afinal de contas, como bem escreveu o querido Manoel de Barros: a importância de uma coisa não se mede com fita métrica, nem com balanças, nem barômetros. A importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que essa coisa produz em nós.
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2 de janeiro de 2019 at 18:58
Uma publicação maravilhosa! Um texto com tanto conteúdo assertivo… Casa é isso mesmo! Um bom ano para si! Beijinho, Manuela
6 de janeiro de 2019 at 16:53
Ah que delícia de post… fez bem ler-te e acompanhar cada cenário-fotografia. É bom esse sentir a casa, seja o próprio corpo que abriga a alma ou o lugar que abriga o corpo. Delicioso.
bacio e que 2019 seja assim: agradável e confortável
7 de janeiro de 2019 at 8:03
Casa-refúgio, casa-toca, casa-festa; vi tudo isso e muito mais na sua casa, Helka!
Fiquei com vontade de me mudar 🙂
Um abraço!
18 de janeiro de 2019 at 15:21
Que lindo! De quem é o texto?
20 de novembro de 2019 at 9:12
Olá, Margarete! Todos os textos do blog são meus, sou a Helka! Feliz que tenha gostado 🙂 Beijo